"Tu só, tu, puro Amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano."

Os Lusíadas, Luís de Camões
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sábado, 20 de junho de 2009

Duro e Fero Amor na Imprensa…

O jornal local “Barcelos Popular” publicou uma nota dando conta de o blogue ter alcançado o 3º lugar no Concurso “Inês de Castro”.

Aqui se reproduz o recorte dessa notícia:

Digitalizar0007

O Blogue, os seus responsáveis e o Clube da Língua Portuguesa agradecem ao Jornal de Barcelos a publicação desta notícia…

quarta-feira, 13 de maio de 2009

“Duro e Fero Amor”

| por: Vera Pereira

Um duro e fero amor
Vos vamos aqui relatar
O de Inês e de Pedro
Que na história teimou em perdurar

Injusto Fado
Que Deus resolveu decretar
Só por mero capricho
E por enfadadas horas ter de suportar

Decretado foi assim
Que Pedro, herdeiro do poder real,
Se apaixonasse perdidamente
Por Inês, aia que da plebe era natural

Dois espíritos e dois corpos
Unidos foram por um amor
Que todos injuriaram
Por tal acto pecador

Por mero cisma da moralidade
E pelas circunstâncias que as aparências exigiam
Duas almas foram condenadas
Por facadas que lhe desferiram

quinta-feira, 30 de abril de 2009

“Meus caros, serenos dias”

| recolhido por: Ana Isabel Lopes

Desde sempre a música inspirou os amantes fazendo-os sorrir nas horas de maior paixão e chorar as horas de sofrimento que o duro e fero amor lhes proporciona. Com esta música de Cari Giorni, desfrutemos deste amor do qual sobressai a dor extrema de um amor aniquilado. A vós, Pedro e Inês.

"Cari giorni a me sereni
d’innocenza e di virtù,
foste brevi, siete spenti,
né a brillar tornate più.
Nel dolor è scorsa intera
la prim’ora dell’età,
mia giornata innanzi sera
nel dolor tramonterà."

Tradução:
“Meus caros, serenos dias”
Meus caros, serenos dias
de inocência e virtude,
fostes breves, já não sois,
nem a brilhar voltareis.
Na dor, profunda dor,
a minha vida amanheceu,
o meu dia, com o crepúsculo
na dor irá anoitecer."

FONTE:
Giuseppe Persiani
Ines de Castro (Salvatore Cammarano)
“Cari giorni a me sereni” (Inês – Romanza – Acto II)

Ouça esta belíssima música:

 

À Procura da «Inês» Amada!

| por: Bruno Fernandes

«Pedro que procura Inês», assim se gosta de intitular Rui, é um jovem que procura a «Inês» amada, que perdeu, segundo ele, por “uma estupidez”.

Contactamos Rui que referiu num comentário deixado neste blogue que o propósito de “Pedro Procura Inês”, não é somente o de procurar a «sua Inês», mas também “criar uma vigorosa obra de arte para Portugal sonhar histórias de amor”.

A perda aconteceu já há algum tempo. No entanto, uma troca de olhares, há uns meses, reacendeu a paixão. Rui só tinha duas opções, ou desistia ou ia atrás da paixão da sua vida. Escolheu a segunda opção!

Espalhou os “paineis de adoração” pela cidade de Lisboa, paineis que já se tornaram um verdadeiro material de culto.

No seu blogue (www.pedro-procura-ines.blogspot.com) uma comunidade segue, a par e passo, aquilo que os astros refletem sobre «Pedro» e sobre «Inês» e também os encontros que ele tenta combinar. Mas ela nunca aparece!

No entanto, Rui diz-nos: “não devem, é claro, acreditar muito nas coisas que vou dizendo. Na minha Carta dos Céus se lê bem minha extraordinária capacidade para mentir.”

Fontes:
Comentário deixado por Rui aqui no blogue, depois de um contacto nosso: 
http://duroferoamor.blogspot.com/2009/04/monumentos-em-nome-do-amor-convento-de.html

Blogue “Pedro Procura Inês”: http://pedro-procura-ines.blogspot.com  

Reportagem TV: http://www.youtube.com/watch?v=MqCuhtsM-vA&eurl=http://pedro-procura-ines.blogspot.com/search/label/In%25C3%25AAs&feature=player_embedded

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Amor Roubado

| por: Joana Barroso

Amor roubado, este sentido por Pedro e Inês. Dois corações amarrados por um forte amor que apenas a tirania que um homem cruel foi capaz de separar. Impossível dizer ou sequer pensar que este é um amor destruído: nem a morte o diminuirá nem a vida conseguirá algum dia abstrair-se dele.

Com a morte de Inês de Castro, o nosso Portugal ganhou um coração despedaçado. D. Pedro jamais sentiu qualquer calor em seu coração.

Seus filhos, fruto dum intemporal sentimento, permanecerão para sempre nos gritos de misericórdia evocados por sua mãe.

A este grande amor, um bem-haja eterno de alguém que admira tão poderosos corações.

Monumentos em nome do amor: Ponte Milvio


| por: Catarina Faria

Nos dias que correm o romantismo parece perdido; o amor torna-se mais comercial do que sentido. Já quase não existem amores tão verdadeiros como os de Pedro e Inês. Contudo, existe uma tradição que continua a juntar muitos corações e a selar amores. A ponte Milvio, que se ergueu sobre o rio Tibre em 207 a.C., é mais um dos muitos monumentos que celebram o amor.

Reza a lenda que os soldados depois do serviço militar vinham colocar, nesta ponte, cadeados e atiravam a chave ao rio em sinal de missão cumprida. Mais tarde, esta prática foi adoptada pelos namorados que, no poste central da ponte, fazem as suas juras de amor e fecham o cadeado para de seguida atirarem a sua chave ao Tibre de modo a perpetuarem o seu amor.

Esta ponte tem sido palco de imensas surpresas. Muitos dos cadeados têm mensagens gravadas e existem alguns que servem de ligação a casais que estão separados pela distância, sendo o objecto físico que mantém a ligação metafísica. Esta tradição ganhou popularidade após a estreia do filme italiano “Ho voglia di te” no qual os protagonistas colocam o seu cadeado na ponte. Em Março de 2007 o poste da ponte desabou (talvez algum amor fosse grande demais), tendo sido reerguido dias depois do incidente.

Para bem dos nossos amantes Pedro e Inês, a própria História e grandeza do seu amor iria eterniza-lo, prendendo este amor com o mais forte dos cadeados ao imaginário português. 

http://farm1.static.flickr.com/146/413189129_4175221e6c.jpg

sábado, 11 de abril de 2009

Amores de Pedro e Inês inspiram escultor


Outras histórias de Amores Infelizes

Amor de Perdição é uma das obras mais conhecidas de Camilo Castelo Branco, escritor do romantismo português do século XIX, que a escreveu quando estava preso na Cadeia da Relação doPorto, sob a acusação de adultério (da qual foi posteriormente absolvido).
Este livro, escrito em 1861 e publicado em 1863, apresenta 20 capítulos numerados, acrescidos de mais um que o autor intitulou de "Conclusão". A obra possui um ritmo vertiginoso, a acção é contada em sequências de tal forma estruturadas e encaixadas que, quase nos apercebermos, chegamos ao final da história.
Amor de Perdição relata a história do amor entre dois jovens, filhos de famílias inimigas, fazendo lembrar Romeu e Julieta, sendo que ambas as obras apresentam um final trágico para
os amantes: Teresa morre quando sabe que Simão é condenado ao exílio e este, sabendo da morte da sua amada, suicida-se.
Nas palavras do autor, Amor de Perdição é um relato da vida curta e desafortunada de um tio paterno: "Desde menino, ouvia eu contar a triste história de meu tio paterno Simão António
Botelho. Minha tia, irmã dele, solicitada por minha curiosidade, estava sempre pronta a repetir o fato ligado à sua mocidade. Lembrou-me naturalmente, na Cadeia, muitas vezes, meu tio, que ali deveria estar inscrito no livro das entradas no cárcere e no das saídas para o degredo. Folheei os livros desde os de 1800, e achei a noticia com pouca fadiga, e alvoroços de contentamento, como se em minha alçada estivesse adornarlhe a memória como recompensa das suas trágicas e afrontosas dores em vida tão breve, Sabia eu que em casa de minha irmã estavam acantoados uns maços de papéis antigos, tendentes a esclarecer a nebulosa história de meu tio. Pedi aos contemporâneos que o conheceram notícias e miudezas a fim de entrar de consciência naquele trabalho. Escrevi o romance em 15 dias, os mais atormentados de minha vida.

FONTES: 
Prólogo. In BRANCO. Camilo Castelo. Amor de Perdição. São Paulo, Modera, 1994

domingo, 5 de abril de 2009

Monumentos em Nome do Amor: Convento de Nossa Senhora da Conceição de Beja

| adaptado por: Catarina Faria

O Convento de Nossa Senhora da Conceição de Beja foi palco de uma das histórias de amor mais controversas do país no que toca à sua veracidade; trata-se da história de amor entre Soror Mariana Alcoforado e marquês de Chamilly, Noel Bouton.

Atravessando a Rua das Portas de Mértola em direcção ao Largo da Boavista, estaremos muito perto do Convento de Nossa Senhora da Conceição, inevitavelmente ligado à história de amor de soror Mariana Alcoforado, que aqui se encontra sepultada.

Soror Mariana Alcoforado nasceu na cidade de Beja em 1640. Ingressou no Convento de Nossa Senhora da Conceição com apenas 12 anos, determinada a dedicar a sua vida a Deus. Contudo, a sua vocação religiosa seria posta à prova quando conheceu o cavaleiro francês Noel Bouton, marquês de Chamilly, que estava em Portugal com as suas tropas, envolvido na guerra da Restauração. Entre os dois surgiu um amor impossível, do qual as “Cartas Portuguesas” são um belíssimo testemunho. 
Publicadas pela primeira vez em francês, em 1669, pelo escritor Lavergne de Guilleraggues, as Cartas têm sido até hoje alvo de grande controvérsia no que diz respeito à sua autoria. A existência de Mariana Alcoforado e do Marquês de Chamilly e o facto de as cartas serem dirigidas a este último são indubitáveis. Aquilo que se discute é a atribuição da autoria dos textos a Soror Mariana Alcoforado e a sua autenticidade.

No primeiro andar do convento, é fácil localizar a janela de Mértola, de onde Mariana terá avistado pela primeira vez o marquês de Chamilly, e que evoca a triste e romântica paixão desta freira, cuja história inspirou poetas e pintores de todo o mundo.

No Convento, funciona actualmente o Museu Regional Rainha Dona Leonor.

 

 

 

 

 

 

 

FONTES:
Texto: Viajar *Clix - http://viajar.clix.pt/tesouros.php?id=333&lg=pt
Mariana Alcoforado - http://www.assirio.com/autor.php?id=1281&i=G

Imagens: http://i.pbase.com/o6/21/4921/1/61271476.DyyXPq5A.Beja0733.jpg
http://www.agencia.ecclesia.pt/ecclesiaout/snpcultura/fotografias/
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sexta-feira, 3 de abril de 2009

Monumentos em nome do amor: Boca do Inferno

| adaptado por: Catarina Faria

Portugal é um país cheio de lendas e belas histórias de encantar que eternizaram locais como autênticos símbolos do amor. Um destes locais é a “Boca do Inferno”.

Segundo se diz, há muito tempo atrás, existia num local, hoje chamado Cascais, um castelo, onde vivia um terrível feiticeiro. Um dia, ele decidiu casar-se e escolheu para noiva a mais bela mulher das redondezas, através da sua lâmina de cristal de rocha. Quando a trouxeram até si, ficou impressionado porque ela era ainda mais bela do que parecia. Cheio de ciúme, e com medo de a perder, decidiu fechá-la numa torre alta, escolhendo para seu guardião o seu cavaleiro mais fiel. Este, cheio de curiosidade, decidiu um dia subir até à torre para ver que prisioneiro era aquele que guardava há tanto tempo. Quando abriu a porta, ficou fascinado com tamanha formosura. Foi aí que começou a visitar a jovem, nascendo dali um grande amor. Decidiram, então, fugir juntos e, montados num cavalo branco, cavalgaram pelos rochedos junto ao mar. Esqueceram-se, apenas que...a magia do feiticeiro lhe permitia ver tudo! Assim, cheio de raiva, ele criou uma tal tempestade que fez com que os rochedos por onde os namorados caminhavam se abrissem, como uma enorme boca infernal, que os engoliu para sempre. O buraco nunca mais fechou e começou a chamar-se, popularmente, a Boca do Inferno.

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boca_inferno01

Fontes:

IMAGENS: http://www.keto.com.br/fotos/lisboa/03/boca_inferno01.JPG
http://nilla.typepad.com/picpicpictures/images/2007/06/17/boca_do_inferno_opposite_side.jpg

TEXTO:
As Historinhas da Ilda - http://ashistorinhasdailda.blogspot.com/2007/06/lenda-da-boca-do-inferno-cascais.html

terça-feira, 31 de março de 2009

Bailado “Pedro e Inês”

Inspirado nos amores trágicos entre D.Pedro - oitavo rei de Portugal, filho de D. Afonso IV - e Inês de Castro - uma das damas de companhia da rainha -,

este bailado, com base na histórica tragédia amorosa,  é uma  criação de Olga Roriz, responsável  pela coreografia, dramaturgia e selecção musical, e foi apresentado pela CNB em 2007 em Moscovo, no Festival Internacional de Dança Contemporânea, tendo-se estreado  em Portugal no Teatro Camões em 2003.

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domingo, 15 de março de 2009

“À Morte de Inês de Castro” de Bocage

O Poeta: Bocage foi um poeta português nascido em Setúbal  a 15 de Setembro de 1765 e falecido em Lisboa a 21 de Dezembro de 1805. Escreveu vários poemas, entre eles À Morte de Inês de Castro, que aqui reproduzimos…

 A Ulina
Soneto Dedicatório

Da miseranda Inês o caso triste
Nos tristes sons, que a mágoa desafina,
Envia o terno Elmano à terna Ulina,
Em cujos olhos seu prazer consiste.

Paixão, que, se a sentir, não lhe resiste
Nem nos brutos sertões alma ferina,
Beleza funestou quase divina,
De que a memória em lágrimas existe.

Lê, suspira, meu bem, vendo um composto
De raras perfeições aniquilado
Por mãos do Crime, à Natureza oposto.

Tu és cópia de Inês, encanto amado;
Tu tens seu coração, tu tens seu rosto...
Ah!, defendam-te os Céus de ter seu fado!

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Longe do caro Esposo Inês formosa
Na margem do Mondego
As amorosas faces aljofrava
De mavioso pranto.
Os melindrosos, cândidos penhores
Do tálamo furtivo,
Os filhinhos gentis, imagem dela,
No regaço da mãe serenos gozam
O sono da inocência.
Coro subtil de alígeros Favónios
Que os ares embrandece,
Ora enlevado afaga
Com as plumas azuis o par mimoso,
Ora solto, inquieto,
Em leda travessura, em doce brinco,
Pela amante saudosa,
Pelos ternos meninos se reparte,
E com ténue murmúrio vai prender-se
Das áureas tranças nos anéis brilhantes.
Primavera louçã, quadra macia
Da ternura e das flores,
Que à bela Natureza o seio esmaltas,
Que no prazer de Amor ao mundo apuras
  O prazer da existência,
  Tu de Inês lacrimosa
As mágoas não distrais com teus encantos.
Debalde o rouxinol, cantor de amores,
Nos versos naturais os sons varia;
O límpido Mondego em vão serpeia
Co'um benigno sussurro, entre boninas
De lustroso matiz, almo perfume;
Em vão se doira o Sol de luz mais viva,
Os céus de mais pureza em vão se adornam
Por divertir-te, ó Castro;
Objectos de alegria Amor enjoam,
Se Amor é desgraçado.
A meiga voz dos Zéfiros, do rio,
  Não te convida o sono:
  Só de já fatigada
Na luta de amargosos pensamentos
Cerras, mísera, os olhos;
Mas não há para ti, para os amantes
Sono plácido e mudo;
Não dorme a fantasia, Amor não dorme:
Ou gratas ilusões, ou negros sonhos
Assomando na ideia, espertam, rompem
  O silêncio da Morte.
Ah!, que fausta visão de Inês se apossa!
Que cena, que espectáculo assombroso
A paixão lhe afigura aos olhos d'alma!
Em marmóreo salão de altas colunas,
A sólio majestoso e rutilante
Junto ao régio amador se crê subida;
Graças de neve a púrpura lhe envolve,
Pende augusto dossel do tecto de oiro,
Rico diadema de radioso esmalte
Lhe cobre as tranças, mais formosas que ele;
Nos luzentes degraus do trono excelso
Pomposos cortesãos o orgulho acurvam;
A lisonja sagaz lhe adoça os lábios;
O monstro da política se aterra
E, se Inês perseguia, Inês adora.
Ela escuta os extremos,
Os vivas populares; vê o amante
Nos olhos estudar-lhe as leis que dita;
O prazer a transporta, amor a encanta;
Prémios, dádivas mil ao justo, ao sábio
Magnânima confere;
Rainha esquece o que sofreu vassala:
De sublimes acções orna a grandeza,
Felicita os mortais; do ceptro é digna,
Impera em corações... Mas, Céus! Que estrondo
O sonho encantador lhe desvanece!
Inês sobressaltada
Desperta, e de repente aos olhos turvos
Da vistosa ilusão lhe foge o quadro.
Ministros do Furor, três vis algozes,
De buídos punhais a dextra armada,
Contra a bela infeliz, bramando, avançam.
Ela grita, ela treme, ela descora;
Os frutos da ternura ao seio aperta,
Invocando a piedade, os Céus, o amante;
Mas de mármore aos ais, de bronze ao pranto,
À suave atracção da formosura,
Vós, brutos assassinos,
No peito lhe enterrais os ímpios ferros.
Cai nas sombras da morte
A vítima de Amor lavada em sangue;
As rosas, os jasmins da face amena
Para sempre desbotam;
Dos olhos se lhe some o doce lume;
E no fatal momento
Balbucia, arquejando: «Esposo! Esposo!»
Os tristes inocentes
À triste mãe se abraçam,
E soltam de agonia inútil choro.
Ao suspiro exalado,
Final suspiro da formosa extinta,
Os amores acodem.
Mostra a prole de Inês, e tua, ó Vénus,
Igual consternação e igual beleza:
Uns dos outros os cândidos meninos
Só nas asas diferem
(Que jazem pelo campo em mil pedaços
Carcases de marfim, virotes de oiro).
Súbito voam dois do coro alado:
Este, raivoso, a demandar vingança
No tribunal de Jove;
Aquele a conduzir o infausto anúncio
Ao descuidado amante.
Nas cem tubas da Fama o grão desastre
Irá pelo Universo.
Hão-de chorar-te, Inês, na Hircânia os tigres;
No torrado sertão da Líbia fera,
As serpes, os leões hão-de chorar-te.
Do Mondego, que atónito recua,
Do sentido Mondego as alvas filhas
Em tropel doloroso
Das urnas de cristal eis vêm surgindo;
Eis, atentas no horror do caso infando,
Terríveis maldições dos lábios vibram
Aos monstros infernais, que vão fugindo,
Já c'roam de cipreste a malfadada,
E, arrepelando as nítidas madeixas,
Lhe urdem saudosas, lúgubres endeixas.
Tu, Eco, as decoraste,
E, cortadas dos ais, assim ressoam
Nos côncavos penedos, que magoam:

«Toldam-se os ares,
Murcham-se as flores;
Morrei, Amores,
Que Inês morreu.

«Mísero esposo,
Desata o pranto,
Que o teu encanto
Já não é teu.

«Sua alma pura
Nos Céus se encerra;
Triste da Terra,
Porque a perdeu.

«Contra a cruenta
Raiva íerina,
Face divina
Não lhe valeu.

«Tem roto o seio
Tesoiro oculto,
Bárbaro insulto
Se lhe atreveu.

«De dor e espanto
No carro de oiro
O Númen loiro
Desfaleceu.

«Aves sinistras
Aqui piaram
Lobos uivaram,
O chão tremeu.

«Toldam-se os ares,
Murcham-se as flores:
Morrei, Amores,
Que Inês morreu.»

FONTES:
Foto: “Olha-me Toda a Tristeza” de Ana Rita Vaz Cruz
http://olhares.aeiou.pt/olha_me_toda_a_tristeza_foto1222108.html

Poema: Eis Bocage… – À Morte de Inês de Castro | Biblioteca Nacional Digital
http://purl.pt/1276/1/poemas.html

O que dizem os estudiosos da leitura

  • Carolina Michaëlis
    Com respeito aos dramas de Inês, considero como tradição histórica não só o amor de perdição do herdeiro da coroa e o seu desenlace sangrento, mas também os seus reflexos de além-tumba.

Inês e os poetas

Fiama Hasse Pais Brandão: Inês de Manto

Teceram-lhe o manto
para ser morta
assim como o prantos
e tece na roca
Assim como o trono
e como o espaldar
foi igual o modo
de a chorar
Só a morte trouxe
todo o veludo
no corte da roupa
no cinto justo
Também como o choro
lhe deram um estrado
um firmal de ouro
um corpo exumado
O vestido dado
como a chorava
mera de brocado
não era escarlata
Também de pranto
a vestiram toda
era como um manto
mais fino que a roupa.

(In Barcas Novas)

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Ruy Belo: Inês Morreu

inês morreu e nem se defendeu
da morte com as asas das andorinha
pois diminuta era a morte que esperava
aquela que de amor morria cada dia
aquela ovelha mansa que até mesmo cansa
olhar vestir de si o dia a dia
aquele colo claro sob o qual se erguia
o rosto envolto em loura cabeleira
pedro distante soube tudo num instante
que tudo terminou e mais do que a inês
o frio ferro matou a ele.
Nunca havia chorado é a primeira vez que chora
agora quando a terra já encerra
aquele monumento de beleza
que pode pedro achar em toda a natureza
que pode pedro esperar senão ouvir chorar
as próprias pedras já que da beleza
se comovam talvez uma vez que os humanos
corações consentiram na morte da inocente inês
E pedro pouco diz só diz talvez
satanás excedeu o seu poder em mim
deixem-me só na morte só na vida
a morte é sem nenhuma dúvida a melhor jogada
que o sangue limpe agora as minhas mãos
cheias de nada
ó vida ó madrugada coisas do principio vida
começada logo terminada.

(" A Margem da Alegria” in Obra Poética)

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Miguel Torga: Antes do fim do mundo, despertar

Antes do fim do mundo, despertar,
Sem D. Pedro sentir,
E dizer às donzelas que o luar
É o aceno do amado que há-de vir…
E mostrar-lhes que o amor contrariado
Triunfa até da própria sepultura
O amante, mais terno e apaixonado,
Ergue a noiva caída à sua altura.
E pedir-lhes, depois, fidelidade humana
Ao mito do poeta, à linda Inês…
À eterna Julieta castelhana
Do Romeu português.

(In  Poemas Ibéricos)

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José Gomes Ferreira: Longe

Coimbra do mês de Agosto,
doente de languidez,
não escondas mais o rosto
com pena de D. Inês.
Mondego, cala o desgosto,
não chores de viuvez.
- Ó Coimbra do sol-posto,
Cheia do sangue de Inês.
A essa hora-funeral
recordo certo punhal
que tinha um cabo de opala.
E vejo o rei português,
Beijando o corpo de Inês
-tentando ressuscitá-la.

( In Poesia )

terça-feira, 3 de março de 2009

Sugestões Culturais: “Súplica de D. Inês de Castro” apresentado no Museu de Arte Antiga

inêscastro O quadro “Súplica de D. Inês de Castro”, do pintor Vieira Portuense, adquirido em 2008 num leilão, em Paris, por um empresário português em parceria com o Estado, vai ser apresentado quinta-feira, no Museu Nacional de Arte Antiga. A obra foi arrematada em Junho do ano passado por 210 mil euros. O coleccionador, que até hoje mantém o anonimato, avançou na altura com a compra, na ausência de liquidez do Ministério da Cultura que se comprometeu a encontrar um financiador para o quadro. Esta tarde em conferência de imprensa, o ministro Pinto Ribeiro, deverá anunciar quem é esse financiador. A “Súplica de D. Inês de Castro” é uma tela que vem completar as colecções nacionais, diz o director do Museu de Arte Antiga, Paulo Henriques, que irá receber o quadro em regime de comodato. O director explica que a obra de Vieira Portuense saiu de Portugal pelas mãos da família real no século XIX.

In Página 1 de 26/02/2009

domingo, 1 de março de 2009

Monumentos em Nome do Amor: Quinta das Lágrimas

| adpatado por: Catarina Faria

Embora não tenha sido construída em nome do amor, foi o cenário do amor mais bonito quer Portugal poderia ter assistido.

A Quinta das Lágrimas, situada na margem esquerda do Mondego em Coimbra e cuja origem se perde nos séculos, foi o cenário dos amores proibidos do príncipe D. Pedro e Inês de Castro

Diz a lenda que foi na Quinta das Lágrimas que D. Inês chorou pela última vez, enquanto era trespassada pelos punhais dos fidalgos a quem o rei Afonso IV ordenara a sua morte. As lágrimas então derramadas inspiraram Luís de Camões a criar o nome de Fonte das Lágrimas e Fonte dos Amores e muitos outros escritores a consagrar o amor eterno de Pedro e Inês.

O palácio ali existente foi construído no século XVIII mas, devido a um incêndio, a casa apresenta arquitectura do século XIX

Ao longo do tempo várias ilustres personalidades foram passando por este local. Uma das mais conhecidas foi Arthur Wellesley, duque de Wellington, comandante das tropas que atacaram as forças invasoras de Napoleão, que plantou duas sequóias, hoje com 190 anos. 

O jardim foi idealizado no século XIX, seguindo uma tendência da época, a da constituição de uma espécie de Museu Vegetal, onde estariam representadas espécies de todo o mundo.

Actualmente, no Palácio da Quinta das Lágrimas, está instalado um hotel de luxo da cadeia Relais & Châteaux.

Sendo um notável hotel, localizado numa propriedade arborizada e repleta de lagos onde a memória romântica ainda permanece do trágico enlace amoroso entre o Príncipe Real D. Pedro e a bela Inês de Castro condenada à morte por ordem do Rei e, até hoje, chorada e cantada por poetas.

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FONTES:

Quinta das Lágrimas - Inês de Castro: http://eb23frazao-ines-8b.blogs.sapo.pt/2093.html
Fotos:
Autores do blogue

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Sugestão de Leitura: “Memória de Inês de Castro” de António Cândido Franco

Sobre o autor: António Cândido Franco nasceu, em Lisboa, a António Cândido Franco13 de Julho de 1956. Com uma Licenciatura em Literatura Românica, apresentou uma tese de Mestrado intitulada Exercícios sobre o Imaginário Cabo-Verdeano (simbologia telúrico-marítima em Manuel Lopes) publicada pela editora Pendor, em 1996. A sua tese de Doutoramento, apresentada em 1997 na Universidade de Évora (onde exercia funções docentes), foi publicada pela Imprensa Nacional em 2000 com o título A Literatura de Teixeira de Pascoaes. Conferencista, prefaciador e apresentador de livros, publicou  numerosos ensaios, dispersos por jornais e revistas, designadamente a revista Colóquio/Letras. Em 1999, recebeu o Prémio Revelação Ensaio, atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores/Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, com a obra Eleanor na Serra de Pascoaes (ed. Átrio). Grande estudioso da obra de Teixeira de Pascoaes, é um dos maiores ensaístas portugueses contemporâneos.  Actualmente, é Professor na Universidade de Évora.

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Há qualquer coisa de miraculoso no encontro em que Pedro repara pela primeira vez, com atenção, em Inês. O infante tinha chegado da Atouguia, com seu ar despreocupado, meio aborrecido e cheio de uma sede insaciável. Foi Inês que preparou na cozinha a bebida de Pedro. Ele agradeceu ligeiramente com a cabeça e bebeu, sem reparar em mais nada. Quando ergueu a cabeça e fitou o rosto de Inês, reparou, intrigado, que os cabelos desta pareciam despedir labaredas. Era um lume que crepitava em silêncio. Foi então que Inês, de forma inesperada, lhe encostou a ponta dos dedos na face. Todas as margens do ser, a esse contacto, foram incendiadas, os diques derrubados. Foi, porém, um gesto inocente, quase pueril. A célebre gaguez de Pedro pode datar desse instante. O amor foi nele o terror dum susto. [...]

Inês ganhou Pedro e depois a própria coroa portuguesa, não por um privilégio de matrimónio, mas pelo privilégio humano dos seus próprios dons. Ela encarnava qualidades humanas raras e todo o seu corpo era a expressão silenciosa das mais altas virtudes do homem. [...]

- Senhora, abri, que é El-Rei de Portugal.

Inês estava junto da janela onde esvoaçava o lençol branco do seu enxoval. Mandou Fátima ir passear pela alameda com as crianças. A solidão do aposento apareceu-lhe como a expressão do seu sacrifício. Preparava-se para a morte como se tinha antes preparado para o amor. Penteou-se e vestiu-se de branco. Inês vestiu-se de branco para morrer e pôs nas mãos um colar de pedras que Pedro lhe dera. E fê-lo, não para interpelar Afonso, mas para mostrar à morte a sua aliança com a vida. [...]

A entrada do rei e dos seus conselheiros nos aposentos de Inês foi intempestiva. Vinham sobretudo preparados para um longo desacordo com Inês, mas a gelada indiferença desta petrificou-lhes os intentos. Todas as tradicionais hesitações atribuídas a Afonso no momento de assassinar Inês devem-se justamente à inesperada atitude dela: nem filhos nem palavras. É fácil vencer um opositor armado e feroz, mas é difícil matar uma mulher que, em vez de brandir argumentos, nos apresenta um vestido branco cheio de silêncio. [...]

O sol declinava no horizonte. Afonso trazia enfim a mão manchada de sangue e os olhos baixos. [...]

Pedro, de madrugada, quando chegou à alameda dos olhos de água, onde hoje é a fonte dos amores, avistou o lençol branco a esvoaçar ao vento. Teve de arrombar sucessivas portas fechadas, no palácio deserto, enquanto gritava desalmadamente por Inês. Quando viu o corpo de Inês desfeito em sangue, a voz ficou-lhe presa na garganta. A célebre gaguez de Pedro, tão falada por Femão Lopes, não era congénita. A gaguez de Pedro foi a consequência imediata da morte de Inês. Se o amor, em vida de Inês, lhe tirou o significado das palavras, o amor, com a morte, tirou-lhe para sempre a fala. Era de madrugada e em Coimbra levantavam-se os primeiros rumores sobre a morte de Inês de Castro. Amanheceu baço e sem luz aquilo que foi o dia.

António Cândido Franco, Memória de Inês de Castro, Publicações Europa-América, Lisboa, 1990 
http://nocturnocomgatos.weblog.com.pt/arquivo/2005_01.html#175236

sábado, 14 de fevereiro de 2009

“A Morte O Amor A Vida” de Paul Eluard

| seleccionado por: Bruno Fernandes

Neste Dia de São Valentim, dia dedicado a todos os namorados e enamorados, seleccionamos este poema Paul Eluard.

Julguei que podia quebrar a profundeza a
                                                               [imensidade
Com o meu desgosto nu sem contacto sem eco
Estendi-me na minha prisão de portas virgens
Como um morto razoável que soube morrer
Um morto cercado apenas pelo seu nada
Estendi-me sobre as vagas absurdas
Do veneno absorvido por amor da cinza
A solidão pareceu-me mais viva que o sangue
Queria desunir a vida
Queria partilhar a morte com a morte
Entregar meu coração ao vazio e o vazio à vida
Apagar tudo que nada houvesse nem o vidro
                                                             [nem o orvalho
Nada nem à frente nem atrás nada inteiro
Havia eliminado o gelo das mãos postas
Havia eliminado a invernal ossatura
Do voto de viver que se anula
Tu vieste o fogo então reanimou-se
A sombra cedeu o frio de baixo iluminou-se de
                                                                      [estrelas
E a terra cobriu-se
Da tua carne clara e eu senti-me leve
Vieste a solidão fora vencida
Eu tinha um guia na terra
Sabia conduzir-me sabia-me desmedido
Avançava ganhava espaço e tempo
Caminhava para ti dirigia-me incessantemente
                                                                     [para a luz
A vida tinha um corpo a esperança desfraldava
                                                               [as suas velas
O sono transbordava de sonhos e a noite
Prometia à aurora olhares confiantes
Os raios dos teus braços entreabriam o nevoeiro
A tua boca estava húmida dos primeiros orvalhos
O repouso deslumbrado substituía a fadiga
E eu adorava o amor como nos meus primeiros
                                                                         [tempos
Os campos estão lavrados as fábricas irradiam
E o trigo faz o seu ninho numa vaga enorme
A seara e a vindima têm inúmeras testemunhas
Nada é simples nem singular
O mar espelha-se nos olhos do céu ou da noite
A floresta dá segurança às árvores
E as paredes das casas têm uma pele comum
E as estradas cruzam-se sempre
Os homens nasceram para se entenderem
Para se compreenderem para se amarem
Têm filhos que se tornarão pais dos homens
Têm filhos sem eira nem beira
Que hão-de reinventar o fogo
Que hão-de reinventar os homens
E a natureza e a sua pátria
A de todos os homens
A de todos os tempos.

Paul Eluard, in "Algumas das Palavras"

Fontes: 

Poema: Citador -  http://www.citador.pt/poemas.php?op=10&refid=200811100407
Foto: “Se me é negado o amor…” – Sónia Cristina Carvalho - http://olhares.aeiou.pt/se_me_e_negado_o_amor_foto964704.html

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

“Amor” de Jorge de Sena

Aproxima-se o chamado "Dia dos namorados", o Dia de S.Valentim, em que supostamente se celebra o amor. Deixando de lado o que todos sabemos do aproveitamento comercial que disso se faz, o que menoriza o sentimento, deixamos aqui um belo poema de amor de Jorge de Sena:

AMOR

Amor, amor, amor, como não amam
os que de amor o amor de amar não sabem
como não amam se de amor não pensam
os que amar o amor de amar não gozam.
Amor, amor, nenhum amor, nenhum
em vez do sempre amar que o gesto prende
o olhar ao corpo que perpassa amante
e não será de amor se outro não for
que novamente passe como amor que é novo.
Não se ama o que se tem nem se deseja
o que não temos nesse amor que amamos
mas só amamos quando amamos ao acto
em que de amor o amor de amar se cumpre.
Amor, amor, nem antes, nem depois,
amor que não possui, amor que não se dá,
amor que dura apenas sem palavras tudo
o que no sexo é o sexo só por si amado.
Amor de amor de amar de amor tranquilamente
o oleoso repetir das carnes que se roçam
até ao instante em que paradas tremem
de ansioso terminar o amor que recomeça.
Amor, amor, amor, como não amam
os que de amar o amor de amar não amam.

Jorge de Sena, in Peregrinatio ad loca infecta, Portugália, Lisboa, 1969 (poema de 1965)

Fontes:
Foto:
Graça Loureiro “É Urgente o Amor”
http://olhares.aeiou.pt/e_urgente_o_amor_foto927404.html

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Sugestão de Leitura: “A Rainha Arcaica” de Ivan Junqueira

Ana Salomé ofereceu-nos outra informação valiosa, esta dada por intermédio de Nuno Dempster (a quem agradecemos, o poema e não só): A Rainha Arcaica da autoria de Ivan Junqueira, que se debruça sobre a temática dos amores inesianos.

V           EU ERA MOÇA, MENINA...

Eu era moça, menina, em meus paços
muito honrada, por nome Inês de Castro
quando o vi no Mondego, inquieto e esgalgo,
a sitiar-me a fímbria das espáduas.
Era o infante meu primo, ajaezado,
o dinasta afonsino com seus gládios,
seus cães de fino faro em meu encalço
no afã de decifrar-me a foz do orgasmo.
Ele se veio a mim como quem sabe
que à fêmea apraz o macho sem alarde.
Nada pediu. Quis-me. Fiz-lhe a vontade.
E a sorte, bem sabeis, lançada estava
quando o vi no Mondego (e já era tarde
para o perdão de Portugal e o Algarve).

VI      INÊS E CONSTANÇA

Foi de Castela que vieram as duas
ao encontro do infante e do infortúnio:
Constança, a que jamais lhe aprouve à gula;
e a outra, que lhe coube como adúltera.
Vieram ambas de Castela: uma,
de alta linhagem e trânsfuga luxúria;
e Inês, a de Galiza e coma ruiva,
também fidalga, mas de berço avulso.
E desde logo perceberam as duas
que dele ao todo não seriam nunca,
nem nesta terra nem em parte alguma,
nem como esposas nem rainhas suas:
a que desceu antes de sê-lo ao túmulo
e a que somente o foi quando defunta.

IX            MORTE DE INÊS

Foram dois, sim, que deles guardo a injúria
sepulta neste pélago do mundo,
onde mais nada me apetece ou pulsa
e em vão meus lábios rezam a pedras mudas
Sim, foram dois, eu sei, alfanje em punho
que se soltaram contra mim, aduncos,
com garras de rapina e cenho duro
tão logo el-rei foi surdo às minhas súplicas
e à fala que lhe fiz entre soluços,
pondo ali de redor meus três miúdos.
À vista deles trespassou-me o gume
como um dilúvio de aguilhões e acúleos.
Que dor, infante, a de não mais ser tua!
E foi então que a noite me fez sua.

XII           VAI NUMAS ANDAS...

            . . . sempre o seu corpo foi per todo o caminho per antre círios acesos.

                        Femão Lopes, Crónica de D. Pedro I, cap. XLIV


Por entre a luz dos círios, sob a névoa,
navega o féretro de uma donzela.
Vai numas andas que os fidalgos levam
em lento périplo ao redor das glebas.
E voa assim por dezassete léguas
que entre Alcobaça e as serras se enovelam.
Vai leve o séquito em seu curso aéreo
ao som do réquiem que sussurram os clérigos.
Flameja a infanta sobre um mar de flechas
e nave adentro flui rumo à capela,
cerca de Pedro, que na pedra a espera
e em pedra a entalha da coroa aos pés.
Descansa Inês, longe dos reis terrestres,
Pois que outro reino agora te celebra.

XIII           INÊS, RAINHA PÓSTUMA

Estavas, linda Inês, póstuma e lívida,
como se a vida em ti não mais fluísse,
mas quem te contemplasse saberia
que eras enfim o nervo do conflito:
não tanto aquele que te fez a vítima
dos reis e das intrigas da península,
mas o que dentro de ti mesma urdiram
teu sangue abrupto e teu amor sem bridas.
Por isso é que o sossego não te cinge
nem te refreia o frémito do instinto
que ainda fustiga o flanco de tuas cinzas.
Ali, na pedra, és de ti própria a epígrafe:
princípio e fim da mísera e mesquinha
que despois de ser morta foy Rainha.

Ivan Junqueira

In A Rainha Arcaica, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1980

Também disponível:
http://nocturnocomgatos.weblog.com.pt/arquivo/2005_01.html#175236

“Inês” de Nuno Dempster

Nós gostamos muito da Ana Salomé (www.cicio.blogspot.com) – como poetisa e como ser humano – e, por isso, convidámo-la a escrever um poema sobre os amores de Pedro e Inês para publicarmos no nosso blogue. Ela, como seria de esperar, acolheu-nos gentilmente. Entrementes, deu-nos informações preciosas sobre outros escritores. Assim, deixamos aqui um poema inédito que, nas palavras de Ana Salomé, "é perturbante e que implica o plano histórico com um plano pessoal", poema de um poeta açoriano, que lançou agora o livro Dispersão – Poesia Reunida, chamado Nuno Dempster. http://esquerda-da-virgula.blogspot.com

Inês,
finjo-te devorada pela sombra
de Pedro a que, por quanto em vida,
foste fiel, Inês atormentada
de nunca ter morrido.
Se te fingisse em outro nome,
tudo teria sido fácil,
não haveria assaltos em que eu era
violador de túmulos
na Igreja de Alcobaça,
provavelmente havia na varanda
sardinheiras vermelhas,
eu não imaginava o teu destino
e os carros passariam tranquilos.

Nuno Dempster
«Obituário 6»

In A esquerda da vírgula : http://esquerda-da-virgula.blogspot.com/2009/01/obiturio-6.html

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Poemas de Amor: “Os Lusíadas” - Episódio de Inês de Castro (Canto III, estrofes 118 a 135)

"Passada estão tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste, e dino da memória
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha."

O rei Afonso voltou a Portugal depois da vitória contra os mouros, esperando obter tanta glória na paz quanto obtivera na guerra. Então aconteceu o triste e memorável caso da desventurada que foi rainha depois de ser
morta, assassinada.

 

"Tu só, tu, puro Amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano".

O amor, somente ele, foi quem causou a morte de Inês, como
se ela fosse uma inimiga. Dizem que o amor feroz, cruel, não se satisfaz com as lágrimas, com a tristeza, mas exige, como um deus severo e despótico, banhar seus altares ("aras") em sangue humano: requer sacrifícios humanos. A palavra "pérfido", na obra, geralmente refere-se aos mouros inimigos. Nesse verso, parece indicar que Inês foi morta com a mesma crueldade que se
usava contra eles.

"Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas."

Inês estava em Coimbra, sossegada, usufruindo ("colhendo doce fruito") da felicidade ilusória ("engano da alma, ledo e cego") e breve ("Que a Fortuna não deixa durar muito") da juventude. Nos campos, com os belos olhos úmidos de lágrimas de amor, repetia o nome do seu amado aos montes (para cima, para o alto) e às ervas (para baixo, para o chão). As formas "fruito" e "enxuito" são variantes de "fruto" e "enxuto". Durante muito tempo, enquanto a Língua Portuguesa se solidificava, essas variantes foram utilizadas simultaneamente. Depois, acabou por definir "fruto" e "enxuto" como a forma culta.

 

Na época, "despois", "fruito", "enxuito" e "escuito" eram palavras comuns. As formas são usadas para adequar a estrutura poética de Os Lusíadas (a oitava-rima), formada por versos decassílabos (heróicos ou sáficos) e respeitar o sistema rítmico dos versos: abababcc. Portanto, "fruito" (verso 2) e "enxuito" (verso 6) são as rimas cabíveis a "muito" (verso 4). Essas formas arcaicas ainda são utilizadas em muitas regiões.

"Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fermosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam.
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria."

As lembranças do príncipe respondiam-lhe, em pensamentos e em sonhos, quando ele estava longe. Isto é, a memória do amado fazia com que Inês conversasse com ele quando este estava ausente. Ambos não se esqueciam um do outro e se "comunicavam" por meio da memória, em forma de pensamentos e sonhos. Assim, tudo quanto faziam ou viam os deixava felizes, porque lembravam dos respectivos amados. Essa estrofe é bastante ambígua. As lembranças do príncipe vinham à mente de Inês como resposta aos seus cuidados amorosos. Por outro lado, as mesmas lembranças, agora de Inês, existiam (moravam) na alma do príncipe quando estava longe da amada.

 

Os sonhos e os pensamentos dos versos 5 e 6, dois modos de lembranças, pertencem indistintamente ao amado e à amada.
E o sujeito de "cuidava" e "via" no verso 7
tanto pode ser ela quanto o príncipe.

"De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas
Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sisudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,"

O príncipe recusa-se a casar com outras mulheres (tálamo: casamento, leito conjugal) porque o amor despreza, rejeita tudo que não seja o rosto da amada (gesto significa rosto, semblante)
a quem está sujeito. Ao ver esse estranho amor, esse comportamento estranho de não querer se casar, o pai sisudo atende ao murmurar do povo e...

"Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co'o sangue só da morte indina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra uma fraca dama delicada?"

... decide matar Inês para que o filho seja libertado do seu amor.
O pai acredita que só o sangue da morte apagará o fogo do amor. Que fúria foi essa que fez com que a espada cortante que
afrontara o poder dos mouros fosse levantada contra uma frágil
e indefesa mulher?

"Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava"

Quando os horríveis e cruéis carrascos trouxeram Inês perante
o rei, este já estava compadecido (com dó) e arrependido. No entanto, o povo persuadia, incitava o rei a matá-la. Inês, então,
com palavras ou com a voz triste, sentindo mais pela dor e saudade do príncipe e dos filhos do que pela própria morte...

"Para o céu cristalino alevantando,
Com lágrimas, os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigorosos);
E depois nos meninos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfindade como mãe temia,
Para o avô cruel assim dizia:"

... levantando os olhos cheios de lágrimas ao céu (somente os olhos, porque um carrasco prendia-lhe as mãos) e, depois, olhando para as crianças – que amava tanto e temia que ficassem órfãs –, disse para o avô cruel (o rei):

"Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedoso sentimento
Como co'a mãe de Nino já mostraram,
E co'os irmãos que Roma edificaram:"

"Se já vimos que até os animais selvagens, cujos instintos são cruéis, e as aves de rapina têm piedade com as crianças, como demostraram as histórias da mãe de Nino e a dos fundadores
de Roma...".
Semíramis, rainha da Assíria e mãe de Nino, a abandonara num monte. Nino foi alimentada por aves de rapina. Rômulo e Remo, fundadores de Roma, foram abandonados quando infantes e amamentados por uma loba.

"Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar uma donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha."

Sendo assim, o rei, que tinha o rosto e o coração humanos (se é que é humano matar uma mulher só porque esta ama um homem que a conquistou), poderia ao menos ter respeito e consideração às crianças, ainda que não se importasse com a triste morte da mãe. Inês suplica, então, que o rei se compadeça dela e das crianças, já que não quer perdoá-la ou absolvê-la de uma culpa, um crime, que não tinha cometido.

"E se, vencendo a Maura resistência,
A morte sabes dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vida, com clemência,
A quem para perdê-la não faz erro.
Mas, se to assim merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente,
Onde em lágrimas viva eternamente."

E se o rei sabia dar a morte, como o mostrara ao vencer os mouros, também saberia dar a vida a quem era inocente. Mas
se apesar da sua inocência ainda a quisesse castigar que a desterrasse, expulsasse para uma região gelada ou tórrida
para sempre.

"Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, co'o amor intrínseco e vontade
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste."

Que ele a colocasse entre as feras, onde poderia encontrar a piedade que não achara entre os homens. Ali, por amor daquele por quem morria ou sofria, criaria os filhos, que eram recordações do pai e seriam consolação da mãe.

"Queria perdoar-lhe o Rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra uma dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais, e cavaleiros?"

O rei bondoso queria perdoar Inês, comovido por suas palavras. Mas o povo obstinado, persistente e o destino de Inês (que assim o quis) não lhe perdoaram. Os que proclamavam que ela deveria morrer puxam suas espadas. Mostram-se valentes atacando uma dama.

"Qual contra a linda moça Policena,
Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co'o ferro o duro Pirro se aparelha;
Mas ela, os olhos com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha)
Na mísera mãe postos, que endoidece,
Ao duro sacrifício se oferece:"

Assim como Pirro se prepara com a espada ("ferro") para matar Policena, por ordem do fantasma de Aquiles, e ela, mansa e serenamente, move os olhos para a mãe, enlouquecida de dor, oferece-se ao sacrifício... Aquiles, herói da guerra de Tróia, era invulnerável por ter sido submergido, logo ao nascer, na água da lagoa Estígia (Lagoa da Morte). Personagem da Ilíada, de Homero, morreu durante a guerra de Tróia, quando foi atingido por uma seta no calcanhar, o único ponto vulnerável do seu corpo. Pirro, filho de Aquiles, teria sido aconselhado pelo fantasma ("sombra") do pai a matar Policena, noiva do herói morto. Matou-a quando esta se encontrava sobre o túmulo de Aquiles.

"Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que depois a fez Rainha,
As espadas banhando, e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, férvidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos."

   

Do mesmo modo agem os cruéis assassinos de Inês. No pescoço ("colo") que sustenta o
belo rosto ("as obras": o sorriso, o olhar, os movimentos do rosto), pelo qual se apaixonou
(o deus Amor, Cupido, fez morrer de paixão)
o príncipe, que depois a fará rainha, eles (os matadores) banham, lavam suas espadas e também as faces pálidas ("brancas flores") e molhadas de lágrimas de Inês; atacavam enraivecidos, sem pensar no castigo que o
futuro lhes reservava. Camões supõe que
Inês foi degolada, como Policena oferecendo o pescoço ao golpe,
e o sangue escorreu sobre seu rosto.

"Bem puderas, ó Sol, da vista destes,
Teus raios apartar aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia!
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes."

Naquele dia, o sol deveria ter se escondido, como fizera quando Tiestes comeu os próprios filhos em um banquete servido por Atreu, para não ver o terrível crime. A última palavra de Inês –
o nome de Pedro, o príncipe – ecoou longa e repetidamente por toda a região. Camões iguala a crueldade da morte de Inês à da história de Atreu e Tiestes. Tiestes era filho de Pélops e irmão de Atreu. Seduziu a esposa do irmão. Atreu deu a comer a Tiestes
os filhos que nasceram daquela união.

"Assim como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lascivas maltratada
Da menina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida
A branca e viva cor, co'a doce vida."

Como uma flor colhida precocemente pelas mãos travessas ("lascivas") de uma menina para colocá-la numa grinalda
("capela"), assim está Inês, sem perfume e sem cor. Morta, pálida, com as faces ("do rosto as rosas") secas, murchas, sem rubor.
O padrão de beleza feminino era uma combinação de branco na testa, colo etc. ("branca e viva cor" ) e vermelho ("viva cor") nas "rosas" do rosto.

"As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca Fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores."

As ninfas do rio Mondego durante muito tempo lembraram
chorando a morte de Inês. E, para sua memória eterna, as lágrimas transformaram-se numa fonte chamada "dos amores de Inês", acontecidos ali. A fonte que rega as flores é refrescante porque é feita de lágrimas e de amores.

Fontes:
Klikeducação:
http://ig.klickeducacao.com.br/

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Monumentos em Nome do Amor

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O Taj Mahal é o famoso Mausoléu Indiano mandado construir pelo imperador Muçulmano SHAH JAHAN, para "imortalizar" o amor á sua esposa favorita Mumtaz Mahal, também conhecida como Arjumand Banu Begam, que faleceu em 1631, devido a complicações no parto do décimo quarto filho.
O Taj Mahal é um conjunto arquitectónico que serve de mausoléu para Arjumand. Considerado por muitos como um dos mais lindos prédios do mundo, umas das actuais sete maravilhas do mundo, constitui um monumento ao amor eterno. Alguns historiadores consideram que o fascínio do Taj Mahal se deve ao grande amor que o Shahjahan tinha pela sua esposa.
Inteiramente em mármore branco, incluindo os quatro minaretes, é composto por cinco estruturas: a entrada principal, o jardim, a mesquita, o jawab e o mausoléu. O Taj Mahal é rigorosamente simétrico de qualquer dos seus lados e, devido à sua transparência, apresenta múltiplas tonalidades ao longo do dia, dependendo da posição do SOL.
Arquitectado por um grupo de arquitectos da Índia, Pérsia e Ásia Central, a construção deste monumento iniciou-se em 1632. Mais de 20.000 trabalhadores trabalharam diariamente para concluir, em 1643, o mausoléu central, de quatro lados e uma cúpula, sobre um nível elevado de mármore e com arcos de 33 metros. As mesquitas adjacentes, os muros e o portão foram terminados em 1649. Todo o edifício, que inclui um espelho d’água e vastos jardins, levou mais de 22 anos para ser construído.
O Taj Mahal localiza-se em Agra, antiga capital do império Mughal, norte da Índia, às margens do rio Jamuna. Património da Humanidade, pela Unesco em 1983, recebe, em média, mais de dois milhões de visitantes, por ano.

Fontes:
Adaptado por Catarina Faria de: http://fotolog.terra.com.br/vika_br:29

Imagem: http://www.adrenaline.com.br

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Outras Histórias famosas de amores infelizes

por: Ana Isabel Lopes

Romeu e Julieta:

Se o amor tem a força de superar todas as adversidades, este, só por existir, tornou-se na maior exaltação deste sentimento que alguma vez foi conhecida. Famoso em todo o mundo, o romance de Romeu e Julieta ainda hoje inspira corações apaixonados pelo esplendor com que a sua história nos envolve. Escrito por William Shakespeare, esta é uma narrativa que expõe o amor de dois adolescentes cujas famílias se odiavam e que, na esperança de serem felizes para sempre, ultrapassaram todas as infelicidades e obstáculos lutando até que o destino se interpusesse no seu caminho. Emocionante até ao último momento, Romeu e Julieta é uma história de amor infeliz que, apesar de ter acabado em tragédia, para sempre viverá na nossa memória como um amor dramático, intemporal e inolvidável.



O filme Romeu e Julieta, inspirado na obra de William Shakespeare, é uma representação contemporânea da trágica história de amor que conta com a participação de Leonardo DiCaprio no papel de Romeu e Claire Danes no de Julieta. Originário dos Estados Unidos, este filme de 1996 não foi o primeiro filme baseado na obra de Shakespeare; em 1968 foi rodado um outro filme com o mesmo título que retratava o amor entre os eternamente apaixonados adolescentes da cidade de Verona.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Cinema: A lenda da “rainha depois de morta” passou ao cinema

Verdade histórica e mito tendem a ser confundidos no nosso imaginário: os amores entre  Inês de Castro e o futuro rei de Portugal,D. Pedro, filho de D. Afonso IV, e o episódio da coroação de Inês depois de morta.

FILME: Inês de Portugal, 1945

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«SINOPSE:
No século XIV, chega D. Constança a Portugal, para casar com D. Pedro. Na sua comitiva, traz a sua aia D. Inês, por quem o noivo se apaixona. D. Inês prefere exilar-se, mas entretanto D. Constança morre, fazendo reatar o romance proibido. D. Afonso IV, pai de D. Pedro, manda executar D. Inês. D. Pedro revolta-se. D. Afonso IV morre e seu filho persegue os executores da sua amada. Coroação e funeral de de D. Inês.

REALIZADOR:
Leitão de Barros

PARTICIPAÇÕES:
António Vilar (Dom Pedro), Alicia Palacios (Dona Inês), Maria Dolores Pradera (D. Constança), João Villaret (Martin, o bobo), Erico Braga (D. Afonso IV), Raul de Carvalho (Diogo Lopes Pacheco) e Alfredo Ruas (Álvaro Gonçalves, o Meirinho-Mor).»

 

FONTES:

Música: «Corpo e Alma»

Os amores trágicos de Inês e Pedro em Ópera: "Corpo eCorpo_e_Alma Alma" de Christopher Bochmann esteve em cena no Teatro Nacional de São Carlos, em Junho de 2008. Texto de António Patrício, adaptação de Laureano Carreira."A lenda-história de Pedro e Inês é conhecida por toda a gente. Portanto, esta ópera não se preocupa em contar esta história mas antes em apresentar alguns aspectos dela sob uma luz diferente: uma luz cuja cor e cuja subtileza melhor se transmitem pela música do que por outros meios. No curto espaço de tempo de uma hora, a obra acompanha o delírio de Pedro e a sua transformação, de um amor sensual para um amor espiritual.

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Fontes:
Foto:
Germina

Sugestões de Livros: «Castro»

Publicada em 1587, a Castro é uma tragédia Castrode António Fereira  (1528-1569) , poeta do nosso classicismo renascentista, em que é contada a desventura de Inês de Castro.

INÊS E O REI

CASTRO:
Meu Senhor,
Esta he a mãy de teus netos. Estes são
Filhos daquelle filho, que tanto amas.
Esta he aquella coitada molher fraca,
Contra quem vens armado de crueza.
Aqui me tens. Bastava teu mandado
Pera eu segura, e livre t'esperar,
Em ti, e em minh'innocencia confiada.
Escusarás, Senhor, todo este estrondo
D'armas, e Cavaleiros; que não foge.
Nem se teme a innocencia, da justiça.
E quando meus peccados me accusaram.
A ti fora buscar: a ti tomara
Por vida em minha morte: agora vejo
Que tu me vens buscar. Beijo estas mãos
Reaes tam piedosas: pois quiseste
Por ti vir-te informar de minhas culpas.
Conhece-mas, Senhor, como bom Rey,
Como clemente, e justo, e como pay
De teus vassallos todos, a que nunca
Negaste piedade com justiça.
Que vês em mim, Senhor? Que vês em quem
Em tuas mãos se mete tam segura?
Que furia, que ira esta he, com que me buscas?
Mais contra imigos vens, que cruelmente
T'andassem tuas terras destruindo
A ferro, e fogo. Eu tremo, senhor, tremo
De me ver ante ti, como me vejo:
Molher, moça, innocente, serva tua,
Tam só, sem por mim ter quem me defenda.
Que a lingua não s'atreve, o sprito treme
Ante tua presença, porém possam
Estes moços, teus netos, defender-me.
Elles falem por mim, elles sós ouve:
Mas não te falaram, Senhor, com lingua,
Que inda não podem: falam-te co as almas,
Com suas idades tenras, com seu sangue,
Que he teu, faláram: seu desemparo
T'está pedindo vida: não lha negues
Teus netos são, que nunca téqui viste:
E vê-los em tal tempo, que lhes tolhes
A glória, e o prazer, qu'em seus spritos
Lhe está Deos revelando de te verem.

REY:
Tristes foram teus fados, Dona Ines,
Triste ventura a tua.
(excerto, Acto IV)