"Tu só, tu, puro Amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano."

Os Lusíadas, Luís de Camões
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terça-feira, 31 de março de 2009

Bailado “Pedro e Inês”

Inspirado nos amores trágicos entre D.Pedro - oitavo rei de Portugal, filho de D. Afonso IV - e Inês de Castro - uma das damas de companhia da rainha -,

este bailado, com base na histórica tragédia amorosa,  é uma  criação de Olga Roriz, responsável  pela coreografia, dramaturgia e selecção musical, e foi apresentado pela CNB em 2007 em Moscovo, no Festival Internacional de Dança Contemporânea, tendo-se estreado  em Portugal no Teatro Camões em 2003.

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domingo, 15 de março de 2009

“À Morte de Inês de Castro” de Bocage

O Poeta: Bocage foi um poeta português nascido em Setúbal  a 15 de Setembro de 1765 e falecido em Lisboa a 21 de Dezembro de 1805. Escreveu vários poemas, entre eles À Morte de Inês de Castro, que aqui reproduzimos…

 A Ulina
Soneto Dedicatório

Da miseranda Inês o caso triste
Nos tristes sons, que a mágoa desafina,
Envia o terno Elmano à terna Ulina,
Em cujos olhos seu prazer consiste.

Paixão, que, se a sentir, não lhe resiste
Nem nos brutos sertões alma ferina,
Beleza funestou quase divina,
De que a memória em lágrimas existe.

Lê, suspira, meu bem, vendo um composto
De raras perfeições aniquilado
Por mãos do Crime, à Natureza oposto.

Tu és cópia de Inês, encanto amado;
Tu tens seu coração, tu tens seu rosto...
Ah!, defendam-te os Céus de ter seu fado!

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Longe do caro Esposo Inês formosa
Na margem do Mondego
As amorosas faces aljofrava
De mavioso pranto.
Os melindrosos, cândidos penhores
Do tálamo furtivo,
Os filhinhos gentis, imagem dela,
No regaço da mãe serenos gozam
O sono da inocência.
Coro subtil de alígeros Favónios
Que os ares embrandece,
Ora enlevado afaga
Com as plumas azuis o par mimoso,
Ora solto, inquieto,
Em leda travessura, em doce brinco,
Pela amante saudosa,
Pelos ternos meninos se reparte,
E com ténue murmúrio vai prender-se
Das áureas tranças nos anéis brilhantes.
Primavera louçã, quadra macia
Da ternura e das flores,
Que à bela Natureza o seio esmaltas,
Que no prazer de Amor ao mundo apuras
  O prazer da existência,
  Tu de Inês lacrimosa
As mágoas não distrais com teus encantos.
Debalde o rouxinol, cantor de amores,
Nos versos naturais os sons varia;
O límpido Mondego em vão serpeia
Co'um benigno sussurro, entre boninas
De lustroso matiz, almo perfume;
Em vão se doira o Sol de luz mais viva,
Os céus de mais pureza em vão se adornam
Por divertir-te, ó Castro;
Objectos de alegria Amor enjoam,
Se Amor é desgraçado.
A meiga voz dos Zéfiros, do rio,
  Não te convida o sono:
  Só de já fatigada
Na luta de amargosos pensamentos
Cerras, mísera, os olhos;
Mas não há para ti, para os amantes
Sono plácido e mudo;
Não dorme a fantasia, Amor não dorme:
Ou gratas ilusões, ou negros sonhos
Assomando na ideia, espertam, rompem
  O silêncio da Morte.
Ah!, que fausta visão de Inês se apossa!
Que cena, que espectáculo assombroso
A paixão lhe afigura aos olhos d'alma!
Em marmóreo salão de altas colunas,
A sólio majestoso e rutilante
Junto ao régio amador se crê subida;
Graças de neve a púrpura lhe envolve,
Pende augusto dossel do tecto de oiro,
Rico diadema de radioso esmalte
Lhe cobre as tranças, mais formosas que ele;
Nos luzentes degraus do trono excelso
Pomposos cortesãos o orgulho acurvam;
A lisonja sagaz lhe adoça os lábios;
O monstro da política se aterra
E, se Inês perseguia, Inês adora.
Ela escuta os extremos,
Os vivas populares; vê o amante
Nos olhos estudar-lhe as leis que dita;
O prazer a transporta, amor a encanta;
Prémios, dádivas mil ao justo, ao sábio
Magnânima confere;
Rainha esquece o que sofreu vassala:
De sublimes acções orna a grandeza,
Felicita os mortais; do ceptro é digna,
Impera em corações... Mas, Céus! Que estrondo
O sonho encantador lhe desvanece!
Inês sobressaltada
Desperta, e de repente aos olhos turvos
Da vistosa ilusão lhe foge o quadro.
Ministros do Furor, três vis algozes,
De buídos punhais a dextra armada,
Contra a bela infeliz, bramando, avançam.
Ela grita, ela treme, ela descora;
Os frutos da ternura ao seio aperta,
Invocando a piedade, os Céus, o amante;
Mas de mármore aos ais, de bronze ao pranto,
À suave atracção da formosura,
Vós, brutos assassinos,
No peito lhe enterrais os ímpios ferros.
Cai nas sombras da morte
A vítima de Amor lavada em sangue;
As rosas, os jasmins da face amena
Para sempre desbotam;
Dos olhos se lhe some o doce lume;
E no fatal momento
Balbucia, arquejando: «Esposo! Esposo!»
Os tristes inocentes
À triste mãe se abraçam,
E soltam de agonia inútil choro.
Ao suspiro exalado,
Final suspiro da formosa extinta,
Os amores acodem.
Mostra a prole de Inês, e tua, ó Vénus,
Igual consternação e igual beleza:
Uns dos outros os cândidos meninos
Só nas asas diferem
(Que jazem pelo campo em mil pedaços
Carcases de marfim, virotes de oiro).
Súbito voam dois do coro alado:
Este, raivoso, a demandar vingança
No tribunal de Jove;
Aquele a conduzir o infausto anúncio
Ao descuidado amante.
Nas cem tubas da Fama o grão desastre
Irá pelo Universo.
Hão-de chorar-te, Inês, na Hircânia os tigres;
No torrado sertão da Líbia fera,
As serpes, os leões hão-de chorar-te.
Do Mondego, que atónito recua,
Do sentido Mondego as alvas filhas
Em tropel doloroso
Das urnas de cristal eis vêm surgindo;
Eis, atentas no horror do caso infando,
Terríveis maldições dos lábios vibram
Aos monstros infernais, que vão fugindo,
Já c'roam de cipreste a malfadada,
E, arrepelando as nítidas madeixas,
Lhe urdem saudosas, lúgubres endeixas.
Tu, Eco, as decoraste,
E, cortadas dos ais, assim ressoam
Nos côncavos penedos, que magoam:

«Toldam-se os ares,
Murcham-se as flores;
Morrei, Amores,
Que Inês morreu.

«Mísero esposo,
Desata o pranto,
Que o teu encanto
Já não é teu.

«Sua alma pura
Nos Céus se encerra;
Triste da Terra,
Porque a perdeu.

«Contra a cruenta
Raiva íerina,
Face divina
Não lhe valeu.

«Tem roto o seio
Tesoiro oculto,
Bárbaro insulto
Se lhe atreveu.

«De dor e espanto
No carro de oiro
O Númen loiro
Desfaleceu.

«Aves sinistras
Aqui piaram
Lobos uivaram,
O chão tremeu.

«Toldam-se os ares,
Murcham-se as flores:
Morrei, Amores,
Que Inês morreu.»

FONTES:
Foto: “Olha-me Toda a Tristeza” de Ana Rita Vaz Cruz
http://olhares.aeiou.pt/olha_me_toda_a_tristeza_foto1222108.html

Poema: Eis Bocage… – À Morte de Inês de Castro | Biblioteca Nacional Digital
http://purl.pt/1276/1/poemas.html

O que dizem os estudiosos da leitura

  • Carolina Michaëlis
    Com respeito aos dramas de Inês, considero como tradição histórica não só o amor de perdição do herdeiro da coroa e o seu desenlace sangrento, mas também os seus reflexos de além-tumba.

Inês e os poetas

Fiama Hasse Pais Brandão: Inês de Manto

Teceram-lhe o manto
para ser morta
assim como o prantos
e tece na roca
Assim como o trono
e como o espaldar
foi igual o modo
de a chorar
Só a morte trouxe
todo o veludo
no corte da roupa
no cinto justo
Também como o choro
lhe deram um estrado
um firmal de ouro
um corpo exumado
O vestido dado
como a chorava
mera de brocado
não era escarlata
Também de pranto
a vestiram toda
era como um manto
mais fino que a roupa.

(In Barcas Novas)

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Ruy Belo: Inês Morreu

inês morreu e nem se defendeu
da morte com as asas das andorinha
pois diminuta era a morte que esperava
aquela que de amor morria cada dia
aquela ovelha mansa que até mesmo cansa
olhar vestir de si o dia a dia
aquele colo claro sob o qual se erguia
o rosto envolto em loura cabeleira
pedro distante soube tudo num instante
que tudo terminou e mais do que a inês
o frio ferro matou a ele.
Nunca havia chorado é a primeira vez que chora
agora quando a terra já encerra
aquele monumento de beleza
que pode pedro achar em toda a natureza
que pode pedro esperar senão ouvir chorar
as próprias pedras já que da beleza
se comovam talvez uma vez que os humanos
corações consentiram na morte da inocente inês
E pedro pouco diz só diz talvez
satanás excedeu o seu poder em mim
deixem-me só na morte só na vida
a morte é sem nenhuma dúvida a melhor jogada
que o sangue limpe agora as minhas mãos
cheias de nada
ó vida ó madrugada coisas do principio vida
começada logo terminada.

(" A Margem da Alegria” in Obra Poética)

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Miguel Torga: Antes do fim do mundo, despertar

Antes do fim do mundo, despertar,
Sem D. Pedro sentir,
E dizer às donzelas que o luar
É o aceno do amado que há-de vir…
E mostrar-lhes que o amor contrariado
Triunfa até da própria sepultura
O amante, mais terno e apaixonado,
Ergue a noiva caída à sua altura.
E pedir-lhes, depois, fidelidade humana
Ao mito do poeta, à linda Inês…
À eterna Julieta castelhana
Do Romeu português.

(In  Poemas Ibéricos)

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José Gomes Ferreira: Longe

Coimbra do mês de Agosto,
doente de languidez,
não escondas mais o rosto
com pena de D. Inês.
Mondego, cala o desgosto,
não chores de viuvez.
- Ó Coimbra do sol-posto,
Cheia do sangue de Inês.
A essa hora-funeral
recordo certo punhal
que tinha um cabo de opala.
E vejo o rei português,
Beijando o corpo de Inês
-tentando ressuscitá-la.

( In Poesia )

terça-feira, 3 de março de 2009

Sugestões Culturais: “Súplica de D. Inês de Castro” apresentado no Museu de Arte Antiga

inêscastro O quadro “Súplica de D. Inês de Castro”, do pintor Vieira Portuense, adquirido em 2008 num leilão, em Paris, por um empresário português em parceria com o Estado, vai ser apresentado quinta-feira, no Museu Nacional de Arte Antiga. A obra foi arrematada em Junho do ano passado por 210 mil euros. O coleccionador, que até hoje mantém o anonimato, avançou na altura com a compra, na ausência de liquidez do Ministério da Cultura que se comprometeu a encontrar um financiador para o quadro. Esta tarde em conferência de imprensa, o ministro Pinto Ribeiro, deverá anunciar quem é esse financiador. A “Súplica de D. Inês de Castro” é uma tela que vem completar as colecções nacionais, diz o director do Museu de Arte Antiga, Paulo Henriques, que irá receber o quadro em regime de comodato. O director explica que a obra de Vieira Portuense saiu de Portugal pelas mãos da família real no século XIX.

In Página 1 de 26/02/2009

domingo, 1 de março de 2009

Monumentos em Nome do Amor: Quinta das Lágrimas

| adpatado por: Catarina Faria

Embora não tenha sido construída em nome do amor, foi o cenário do amor mais bonito quer Portugal poderia ter assistido.

A Quinta das Lágrimas, situada na margem esquerda do Mondego em Coimbra e cuja origem se perde nos séculos, foi o cenário dos amores proibidos do príncipe D. Pedro e Inês de Castro

Diz a lenda que foi na Quinta das Lágrimas que D. Inês chorou pela última vez, enquanto era trespassada pelos punhais dos fidalgos a quem o rei Afonso IV ordenara a sua morte. As lágrimas então derramadas inspiraram Luís de Camões a criar o nome de Fonte das Lágrimas e Fonte dos Amores e muitos outros escritores a consagrar o amor eterno de Pedro e Inês.

O palácio ali existente foi construído no século XVIII mas, devido a um incêndio, a casa apresenta arquitectura do século XIX

Ao longo do tempo várias ilustres personalidades foram passando por este local. Uma das mais conhecidas foi Arthur Wellesley, duque de Wellington, comandante das tropas que atacaram as forças invasoras de Napoleão, que plantou duas sequóias, hoje com 190 anos. 

O jardim foi idealizado no século XIX, seguindo uma tendência da época, a da constituição de uma espécie de Museu Vegetal, onde estariam representadas espécies de todo o mundo.

Actualmente, no Palácio da Quinta das Lágrimas, está instalado um hotel de luxo da cadeia Relais & Châteaux.

Sendo um notável hotel, localizado numa propriedade arborizada e repleta de lagos onde a memória romântica ainda permanece do trágico enlace amoroso entre o Príncipe Real D. Pedro e a bela Inês de Castro condenada à morte por ordem do Rei e, até hoje, chorada e cantada por poetas.

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FONTES:

Quinta das Lágrimas - Inês de Castro: http://eb23frazao-ines-8b.blogs.sapo.pt/2093.html
Fotos:
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