"Tu só, tu, puro Amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano."

Os Lusíadas, Luís de Camões
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domingo, 18 de janeiro de 2009

Pedro, lembrando Inês

Nuno Júdice (1949) é ensaísta, poeta, ficcionista e professor  universitário na Universidade Nova.  Publicou antologias, edições de crítica literária, estudos sobre Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa. A  sua estreia NunoJudice[1]literária deu-se com A Noção de Poema (1972). Em 1985, recebeu o Prémio Pen Clube, e em 1990, o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus. Em 1994,  a Associação Portuguesa de Escritores distinguiu-o pela publicação de Meditação sobre Ruínas, finalista do Prémio Europeu de Literatura Aristeion. Assinou ainda obras para teatro e traduziu autores como Corneille e Emily Dickinson. Foi Director da revista literária Tabacaria. Tem obras traduzidas em Espanha, Itália, Venezuela, Inglaterra e França.

Em 2001, publicou  Pedro Lembrando Inês , livro de poemas que recordam os amores de D. Pedro I e de D. Inês de Castro, ligando-os com outros amores e com os elementos ar, terra, água e fogo. Um belo livro de poesia.

Em quem pensar,agora,senão em ti? 
Tu, que me esvaziaste de coisas incertas, 
e trouxeste a manhã da minha noite.

É verdade que te podia dizer: 
"Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem,sermos o que sempre fomos,mudarmos
apenas dentro de nós próprios?"

Mas ensinaste-me a sermos dois; 
e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide.

Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, 
ouvir a tua voz que abre as fontes de todos os rios,

mesmo esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo,para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba.

Como gosto,meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: 
com a surpresa dos teus cabelos, 
e o teu rosto de água fresca que eu bebo, 
com esta sede que não passa.

Tu: a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, 
como gostas de mim, 
até ao fundo do mundo que me deste.

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