Nuno Júdice (1949) é ensaísta, poeta, ficcionista e professor universitário na Universidade Nova. Publicou antologias, edições de crítica literária, estudos sobre Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa. A sua estreia literária deu-se com A Noção de Poema (1972). Em 1985, recebeu o Prémio Pen Clube, e em 1990, o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus. Em 1994, a Associação Portuguesa de Escritores distinguiu-o pela publicação de Meditação sobre Ruínas, finalista do Prémio Europeu de Literatura Aristeion. Assinou ainda obras para teatro e traduziu autores como Corneille e Emily Dickinson. Foi Director da revista literária Tabacaria. Tem obras traduzidas em Espanha, Itália, Venezuela, Inglaterra e França.
Em 2001, publicou Pedro Lembrando Inês , livro de poemas que recordam os amores de D. Pedro I e de D. Inês de Castro, ligando-os com outros amores e com os elementos ar, terra, água e fogo. Um belo livro de poesia.
Em quem pensar,agora,senão em ti?
Tu, que me esvaziaste de coisas incertas,
e trouxeste a manhã da minha noite.
É verdade que te podia dizer:
"Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem,sermos o que sempre fomos,mudarmos
apenas dentro de nós próprios?"
Mas ensinaste-me a sermos dois;
e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide.
Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo,
ouvir a tua voz que abre as fontes de todos os rios,
mesmo esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo,para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba.
Como gosto,meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar:
com a surpresa dos teus cabelos,
e o teu rosto de água fresca que eu bebo,
com esta sede que não passa.
Tu: a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti,
como gostas de mim,
até ao fundo do mundo que me deste.
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