Fiama Hasse Pais Brandão: Inês de Manto
Teceram-lhe o manto
para ser morta
assim como o prantos
e tece na roca
Assim como o trono
e como o espaldar
foi igual o modo
de a chorar
Só a morte trouxe
todo o veludo
no corte da roupa
no cinto justo
Também como o choro
lhe deram um estrado
um firmal de ouro
um corpo exumado
O vestido dado
como a chorava
mera de brocado
não era escarlata
Também de pranto
a vestiram toda
era como um manto
mais fino que a roupa.
(In Barcas Novas)
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Ruy Belo: Inês Morreu
inês morreu e nem se defendeu
da morte com as asas das andorinha
pois diminuta era a morte que esperava
aquela que de amor morria cada dia
aquela ovelha mansa que até mesmo cansa
olhar vestir de si o dia a dia
aquele colo claro sob o qual se erguia
o rosto envolto em loura cabeleira
pedro distante soube tudo num instante
que tudo terminou e mais do que a inês
o frio ferro matou a ele.
Nunca havia chorado é a primeira vez que chora
agora quando a terra já encerra
aquele monumento de beleza
que pode pedro achar em toda a natureza
que pode pedro esperar senão ouvir chorar
as próprias pedras já que da beleza
se comovam talvez uma vez que os humanos
corações consentiram na morte da inocente inês
E pedro pouco diz só diz talvez
satanás excedeu o seu poder em mim
deixem-me só na morte só na vida
a morte é sem nenhuma dúvida a melhor jogada
que o sangue limpe agora as minhas mãos
cheias de nada
ó vida ó madrugada coisas do principio vida
começada logo terminada.
(" A Margem da Alegria” in Obra Poética)
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Miguel Torga: Antes do fim do mundo, despertar
Antes do fim do mundo, despertar,
Sem D. Pedro sentir,
E dizer às donzelas que o luar
É o aceno do amado que há-de vir…
E mostrar-lhes que o amor contrariado
Triunfa até da própria sepultura
O amante, mais terno e apaixonado,
Ergue a noiva caída à sua altura.
E pedir-lhes, depois, fidelidade humana
Ao mito do poeta, à linda Inês…
À eterna Julieta castelhana
Do Romeu português.
(In Poemas Ibéricos)
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José Gomes Ferreira: Longe
Coimbra do mês de Agosto,
doente de languidez,
não escondas mais o rosto
com pena de D. Inês.
Mondego, cala o desgosto,
não chores de viuvez.
- Ó Coimbra do sol-posto,
Cheia do sangue de Inês.
A essa hora-funeral
recordo certo punhal
que tinha um cabo de opala.
E vejo o rei português,
Beijando o corpo de Inês
-tentando ressuscitá-la.
( In Poesia )
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