"Tu só, tu, puro Amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano."

Os Lusíadas, Luís de Camões
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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

"História de Inês de Castro"

por: Ana Isabel Lopes

Inês de Castro, nascida em 1320 ou 1325 (não se sabe ao certo), na Galiza, era filha ilegítima de Pedro Fernandes de Castro e Aldonça Suárez de Valadares e prima em 3º grau de D. Pedro.

Tendo vivido parte da sua infância no castelo de Albuquerque torna-se aia de D. Constança Manuel que estava prometida ao príncipe de Portugal, D. Pedro.

Em 1340, Inês de Castro chega a Évora acompanhando o séquito de D. Constança.

D. Constança e D. Pedro casam na Sé de Lisboa perante a felicidade de todos visto que, para eles, esta mulher representava a fertilidade, pois não seria estéril como fora a primeira esposa de D. Pedro, Dona Branca de Castela. D. Afonso IV e Dona Beatriz, pais de D. Pedro, tinham esperança que D. Constança viesse a ser a mãe carinhosa dos seus netos.

No entanto, a vinda de Inês de Castro para Portugal como aia de D. Constança trouxe problemas a este casamento. Inês era uma jovem donzela de linhagem fidalga brindada pela natureza com um corpo esbelto, olhos brilhantes, rosto prendado, cabeleira abundante e tronco roliço bem torneado que atraíram o príncipe que não tardara a mostrar por ela preferência, simpatia e afeição. D. Pedro não pode jamais esconder o amor e a paixão que nutria por aquela mulher.

Esta relação não agradava, naturalmente, a D. Constança que julgava conseguir chamar o marido à razão com o nascimento do seu filho Francisco que viria a falecer. Convidou também Inês para madrinha com o intuito de que esta, como comadre de Pedro, se afastasse do seu marido. Nasceu, mais tarde, o segundo filho do casal, Fernando, que era protegido pelo avô e a quem estava destinada a coroa portuguesa.

A vida amargurada de D. Constança e a sua debilidade física não lhe permitiram viver muito tempo. Vivia numa constante melancolia que procurava colmatar através de passeios pelos jardins e serões musicais. Acabou por falecer no parto da sua filha Maria em 1345. Assim, D. Pedro torna-se num homem livre podendo viver sem entraves o seu amor com Inês de Castro.

Apesar de tudo, este amor perturbava o rei Afonso IV que achou por bem exilar D. Inês com a finalidade de impedir o relacionamento do seu filho com a jovem galega. Na verdade, esta intenção do rei saiu fracassada pois Inês e Pedro, servindo-se dos almocreves, comunicavam por apaixonadas cartas que mantiveram acesa a chama do amor de ambos que lhes permitiu superar todas as adversidades.

Contrariando as ordens de seu pai, D. Pedro fez jus ao seu amor mandando vir D. Inês para Coimbra iniciando-se uma vida em comum para o casal. No entanto, D. Afonso IV, apesar de insatisfeito com a situação, não entrou em confronto com o seu filho pelo desgosto que causaria à sua esposa, mãe do herdeiro, D. Beatriz.

A relação de Pedro e Inês era extraordinariamente feliz, viviam em harmonia em Santa Clara. Desta relação nasceram quatro filhos: Afonso, que falecera ainda muito pequenino, João, Dinis e Beatriz. Estas crianças viviam saudavelmente, rodeados de ternura, atenção e carinho por parte dos seus pais como representantes do imenso amor, para sempre eternizado, que os seus pais sentiam um pelo outro.

D. Afonso IV temia a conspiração que os poderosos Castros (irmãos de D. Inês) armavam para que um dos filhos de D. Pedro e D. Inês viesse a governar o reino de Leão e Castela, bem como o de Portugal, pondo fim à Independência da Pátria Portuguesa. Assim, preocupado com o rumo do seu reino e com o destino dos seus netos, D. Afonso IV tomou uma decisão. Para tal reuniu com Diogo Lopes Pacheco, Álvaro Gonçalves e Pero Coelho que tomaram a decisão de acabar com a vida de D. Inês.

A 7 de Janeiro de 1355, Inês de Castro, eterno amor de D. Pedro, foi degolada juntamente com os seus três filhos. Vendo a chegada dos reis e dos seus conselheiros, Inês ficara surpreendida. Juntamente com ela pereceram os seus filhos e de Pedro.

Tendo encontrado D. Inês sem vida, D. Pedro reagiu com violência a este crime inclemente, como nunca se ouvira falar. Desafiando o rei, seu pai, para uma guerra, D. Pedro iniciava a sua vingança. Após a sua subida ao trono, em 1357, o amado de Inês atirou os responsáveis pela morte da sua querida para a prisão. O único que escapara à punição de D. Pedro fora Diogo Lopes Pacheco. Nos paços de Santarém, conta a lenda que D. Pedro, após ter amarrado as vítimas, arrancou pessoalmente o coração a ambos ainda em vida, a um pelo peito, a outro pelas costas, afirmando que quem fizera aquilo ao seu grande amor não teria certamente coração.

Já rei de Portugal, D. Pedro confessou ter casado secretamente com D. Inês tornando-a, assim, rainha de Portugal. Deste modo, procedeu à transladação do corpo de Inês do Mosteiro de Santa Clara em Coimbra para Alcobaça, num túmulo que mandou construir para ambos para que, deste modo, ficassem juntos para a eternidade. Foi um cortejo fúnebre de uma imponência nunca antes vista, onde todos fizeram luto pela morte da jovem Inês. Nasceu até a lenda de que D. Pedro coroou Inês depois de morta, obrigando a nobreza a beijar-lhe a translúcida mão de rainha morta.

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